quinta-feira, 23 de maio de 2013

Chip´s of Love - Capítulo IV - Minha casa minhas regras



No apartamento do seu primo, Otávio Olavo liga a TV e deita no sofá. Em pouco tempo apaga. Enquanto isso, seu primo está na cozinha comendo. “Porra... era só o que me faltava mesmo... logo agora esse doido tem que ficar aqui? Que porra...” – pensa o rapaz, preparando três saquinhos de miojo.

Já com o prato cheio de macarrão, o primo escuta:

“AH SEU FILHA DA PUTA... EU TE PEGO... EU TE PEGO... AHHHHHHHHHHHH”...

Otávio Olavo aos berros salta do sofá, se bate, tropeça numa cadeira com o cinzeiro cheio de bitucas, derruba tudo e também cai.

“Caralho... que porra é essa” – pensa o primo ao limpar os beiços e correr até a sala.

...

O apartamento do Primo é gigante. Ninguém sabe direito o que ele faz da vida. Mora numa cobertura no bairro do Batel e diz ser vendedor de tecnologia.

...

- Ei Otávio, você está bem? Levanta aí cara!
- Opa... tá tudo bem sim! O que aconteceu? O que estou fazendo aqui no chão?
- Porra... sei lá... você começou a gritar, xingar... vim ver o que tava acontecendo e encontrei você aqui.
- Nossa... que merda... desculpe aí cara... acho que estou cansado, preciso dormir. Onde fica meu quarto?

Então o Primo leva Otávio ao seu aposento. Uma suíte maior que muito apartamento por aí.

- Porra Primão... que quarto é esse ein bicho? Caralho... ta rasgando grana ein...
- Que rasgando o que porra... consegui comprar esse AP aqui com muito suor... caralho... ta me tirando?
- Não... não... bom... vou dormir... meu remédio já fez efeito... em você não?
- Pois é... to meio tonto... vou dormir também...

...

No seu quarto, já sozinho, o Primo de Otávio pega outro celular na gaveta ao lado da sua cama e faz uma ligação:

- E aí mermão... a parada é a seguinte: lembra que te falei de um primo doidão da cabeça?
- Sim... aquele que era meu cliente...
- Esse mesmo...
- O que tem ele? Tá na ativa novamente? Ou sumiu em alguma orgia muito doida por aí? Hahahahaha
- Hã?
- Ah... vai dizer que seu primo nunca te contou umas histórias de putaria com uma mulher que ele era casado?
- Não, nunca...
- Porra... o cara gostava de uma sacanagem... vinha aqui, cheirava pra caralho e contava umas histórias cabulosas mermão... tinha neguinho que botava raio pra ele... só pra ouvir ele falar...
- Eles quem?
- Ele e sua mulher ué...
- Minha mulher?
- Não porra... a mulher dele... caralho... parece burro...
- Não cara... só to achando estranha essa história aí... mas... bom... voltando ao assunto... temos o lance de amanhã... tá ligado né... “ver o filme aqui em casa”... ta ligado?
- To ligado...
- Mas então... por causa desse meu primo aí, que saiu do hospício, vem uma galera aqui pra casa. É tio, tia... a porra toda...
- Puta que pariu... e agora?
- Não sei... não sei...
- Cara... ta tudo armado... a parada é aí... sem falta... papo reto... não tem como mudar...
- Eu sei porra... mas como vamos fazer?
-  Sei lá porra... se vira aí... pensa direito...
- Porra... e eu achando que você me daria alguma ideia...
- Meu velho... quem dá é outra coisa... eu te ajudo... mas o que eu ganho com isso porra?
- Ah... vai se fude... amanhã vejo isso... agora vou dormir...
- Falow cara... até amanhã... pensa direito o que vai aprontar aí...
- Falow...

...

No bar, Otávio Olavo já estava bêbado. Stifen e Seu Laércio começaram a beber também.

- Mas Otávio, o que houve cara? Que papo é esse de trauma, de corno... do que você está falando? – perguntou Stifen.
- Olha... eu fudi com tudo. Sabe quando você ferra com a merda toda... meu mundo estava perfeito... e agora estou na merda.
- O que aconteceu cara? – pergunta agoniado Seu Laércio.
- Eu... eu... – e Otávio começa a chorar.
- Calma amigo. O que é isso? Está tudo bem... ainda trabalhamos juntos, ainda bebemos juntos, você terminou seu romance, aliás, com uma pessoa que nós não conhecemos... só sabemos das suas histórias... mas é nessas horas que os verdadeiros amigos aparecem, não é Laércio?
- Claro... olha só, o Stifen está certo. Você precisa se acalmar. Somos seus amigos, você pode ficar tranquilo.

Otávio se acalma um pouco. Vai até o banheiro se lavar. Volta mais sossegado. Stifen e Seu Laércio se olham sem falar uma só palavra. O clima de tristeza tomou conta de todos.

- Dá mais uma dose aí Seu Laércio... hoje vou contar uma coisa que nunca contei pra ninguém...

A dose chega e Otávio Olavo abre o jogo:

- Eu e minha mulher... ou melhor – com as mãos na boca e segurando o choro – ... ex mulher, tínhamos um pacto. Um acordo amoroso...
- Certo – disse prestando atenção Stifen.
- O negócio é o seguinte... combinamos, depois de um tempo de relacionamento, que precisávamos apimentar nosso lance. Foi aí que veio a ideia do meu amor... ou melhor...
- Ok Otávio... já sabemos – interrompeu Seu Laércio.
- É amigo... continue... – Stifen.

Foi aí que Otávio Olavo abriu o jogo. Explicou toda a ideia do chip criada por sua ex-mulher. Stifen e Seu Laércio olhavam pra um Otávio totalmente mudado, uma pessoa totalmente abalada psicologicamente, que demonstrava muito sofrimento.

Após um breve silêncio... Stifen diz:

- Bom... vamos nessa Otávio, por hoje ta bom cara. Eu te levo pra casa. Ok? – quando Stifen olha pra Otávio, ele está de cabeça baixa, na sua mão direita o copo de whisky – já vazio – e na sua cabeça muita confusão.
- É Otávio. Vai descansar... esfriar a cabeça – completou Seu Laércio.
Então Otávio e Stifen vão embora. Seu Laércio fecha o bar.

...

Otávio Olavo falou do seu relacionamento com sua ex-mulher pra fugir do outro assunto: seu trauma.

...

Logo pela manhã Otávio é acordado pelo Primo:

- Ei, Otávio, ta acordado? – tum tum tum – Ei, Otávio! – tum tum tum – Porra maluco... acorda aí cara! – tum tum tum tum tum tum...
- O que? – gritou Otávio puto...
- Aí filha da puta... olha o jeito que tu fala comigo... entende uma coisa... minha casa minhas regras...

“Quer merda... o que eu to fazendo aqui! Que merda... puta que pariu” – e levantou pra abrir a porta.

O Primo de Otávio entra com um sorriso sarcástico.

- Otávio, senta na cama meu camaradinha... fique sossegado. Não vou demorar muito... depois você dorme, se conseguir...
- O que você quer cara? Porra... que horas são?
- Seis e meia.
- Aff...
- Fique tranquilo. O papo é reto.
- Tá, fala aí.
- Hoje, vem sua família pra cá. Vem teu pai, tua mãe, teus ‘irmão’... ta ligado né?
- Sim, você já disse...
- É... pois então... bom... primeiro quero te dizer que fiquei surpreso em buscar você num hospício... fiquei surpreso mesmo.
- Não é um hospício, é uma clínica de reabilitação...
- Que seja...
- É... mas e aí?
- Se liga então... seguinte primo... hoje você vai precisar decidir uma coisa muito importante pra você.
- É mesmo... e o que é? Vai direto ao assunto véio...
- Tá bom... o negócio é o seguinte... hoje a noite você vai precisar surtar.
- O quê?
- Surtar... sabe como é... surtar... gritar... babar... sei lá meu... você sabe muito bem como surtar... é doutor no assunto hehehe
- Cara... do que você ta falando?
- Hoje a noite... quando todo mundo estiver aqui, você vai surtar.
- Cara... que porra é essa. Por que eu vou surtar?
- Hehehe... olha... por uma simples razão... se você não surtar, você morre...
- O doido cara... se ta maluco? Do que se ta falando meu!
- Otávio... imagine uma coisa... eu sentado com todo mundo da nossa família... aí eu falo sobre a importância de você ter ficado numa clínica, não é? Afinal, pra um cara que passava madrugadas nas ‘boca’, estar vivo é um milagre!
- O que? Você ficou louco?
- E tem mais... eu posso falar que você ta devendo uma grana pro fulano de tal lá... e que você foi ameaçado. Sabe como é... esses caras matam mesmo...
- Cara... não to entendendo merda nenhuma.
- Foda-se então... só te digo uma coisa... é melhor se preparar... se prepare mermão... teatro!!! A arte!!! A vida é uma arte né não... então... se liga... hoje... seja mais uma vez o Otávio que todos conhecem...
- Você só pode estar maluco da cabeça...
- Bom... tua família vai chegar aqui por volta das quatro... tem bastante tempo pra você estudar seu personagem.

O PRIMO de Otávio levantou, foi em direção a saída, parou e concluiu – já com a porta aberta.

- Outra coisa priminho... eu fui buscar você com toda a certeza do mundo... num hospício...