terça-feira, 1 de maio de 2012

O dia do trabalhador


Certo de que o cotidiano é uma estufa inchada em que só alguns podem transbordar, se percebe que isto é um sinal de que algo justifica a ausência de perspectiva. O horizonte pra alguns não é vislumbrado, então quando houver uma mudança, quando a estufa for ultrapassada, uma parcela bem grande da realidade permanecerá intacta. Alguns degraus não servem pra subir ou descer, eles servem pra deixar uma porcentagem de boas almas paradas; umas sobem até os primeiros outras vão mais alto, mas após isso... param onde querem que parem.  

Porém existe algo que está a se dilatar. Algumas formas, formais ou não, necessitam ultrapassar uma barreira que divide o sistema: os que já estão fora da estufa e os que sonham deixá-la pra trás – e a passos de tartaruga estruturam sua fuga. Podem ser larvas que saem do casulo, podem ser lagartas que sobrevivem aos agroquímicos. Simples insetos. Animais que foram trancados e que clamam por liberdade.

É comum o sistema atual abrir caminho pra liberdade. Hoje existem os emergentes. Eles crescem com velocidade; também voracidade. É comum o sistema trocar de dono, sendo que os antigos medalhões, mesmo perdendo a majestade, permanecerão fora da estufa. Os que estão fora desça prisão, precisam que todos os outros se mantenham firmes em seus postos.

Na estufa existe a terra, que é adubada, que é cuidada, que é tratada, muitas vezes mal tratada, esquecida e degradada. Na terra existe vida. E pra que isso tudo faça sentido, toda estrutura depende da raiz, pois elas têm o poder de reprodução – a luz que mantém a estufa em constante mutação: as mães do sistema.

Os enraizados não irão a lugar algum. Eles precisam estar nos seus degraus, pregados a estagnação. Alguns são felizes assim, outros não tem saída, muitos se negam, existem os que sobem e descem constantemente e conseguem, mesmo sem esperança, acreditar que podem sair da estufa ao subir degraus. Existe um pessoal fora dessa estufa que financia ‘explosões’ em locais estratégicos, mudanças friamente calculadas.

Sempre deixam pras raízes o papel de ascensão difícil, deslumbrante... isso pra que saibamos como nossa vida pode ficar ainda mais imóvel e monótona. Os que ultrapassarão as barreiras serão os mesmos, com uma exceção aqui outra ali.

Enfim... são os trabalhadores. Unidos ou não, incham as estufas, são as mães do sistema - trabalham pra que alguns vivam o ‘surrealismo real’. O conto de fadas. O american dream.

O sistema sabe que depende da terra e do que ela proporciona. Proporcionamos vida a outros, para que vivam com a energia do nosso suor.

A estufa vai explodir, alguns fugirão, outros morrerão, haverá os que mudarão. Há o bom, assim como o desprezível, quem explora e quem valoriza. Podem mudar gerações, porém as raízes estarão lá e os trabalhadores estarão lá. Essa margem nunca some. A estrutura não irá sumir... outro período, outros enraizados... outras ascensões...

No dia trabalhador – um dia – haverá uma estufa em que todos os enraizados se abraçarão com suas raízes, falarão uns pros outros: “cavem”, “cavem”, “façam túneis”, “caminhos alternativos”... “não é só por cima, de degrau em degrau”... “não é desse jeito! É do nosso jeito!”... “não é só dessa maneira que se pode experimentar o lado ‘surreal da realidade’!”.

Quando uma estufa fizer o que todas podem fazer... todas farão... e todos os trabalhadores esquecerão que um dia eles comemoraram o dia do trabalhador  sem perspectiva; ou a lutar por justiça, por melhoras, por atenção, por água, por mais cuidado com o terra, por mais igualdade... quando a estufa fizer seu caminho alternativo, o dia do trabalhador não será mais uma mera data com shows e passeatas... lembranças nostálgicas, com suas bandeiras e símbolos... será apenas mais um dia... um dia como todos os outros... o dia dos que cientificaram o ‘incientificável’.

Não se sabe... “é de baixo pra cima ou de cima pra baixo?”... mas será um dia sem direção... com vários túneis subterrâneos, alternativas dilatadas pela gosto que se tem de trabalhar... trabalho por trabalho... trabalho pra família... trabalho pro amor... justiça por justiça... liberdade por liberdade... e não trabalhar pra justiça de alguns... liberdade de alguns...  

E são esses alguns... esses que sabem... esses que não querem sair de onde estão... esses são os que mais sabem... os que mais temem... e é por isso, pra ficar onde estão, que podam os bons pela raiz.