terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Férias palestinas

O palestino vai pras férias. Ele, sua mulher e seus filhos. Prepara suas roupas de banho, protetor solar e uma grana do ano de trabalho. Tem um comércio, com clientes fiéis.

A freguesia gosta dele. Está sempre a disposição. Quando outros fecham, lá está ele com seu comércio a todo vapor.

Cai na estrada com sua família. A diversão é certa. Escuta um som e brinca com seus filhos. Sua mulher contente.

Uma família eufórica pra ver o mar. Desfrutar dos dias longe do trabalho diário e do cotidiano estafante. Parece que as coisas melhoraram.

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É como todos nós. Pegamos nossa mochila e saímos por aí. Encontramos nossa família pra confraternizar. Vemos pessoas que fazia tempo que não encontrávamos. Um período alegre e de festas. Não é diferente pra ninguém!

Chegamos a qualquer lugar, compramos cerveja, fumamos cigarros, comemos como porcos famintos. Tudo normal. Uma nação que esbanja vigor pra festa. Pra esquecer os dias duros que se passaram e se preparar pros que virão.

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Como nós, a família palestina ergue seu guarda sol, leva sua cerveja, compra milho verde pros filhos, água de coco pra mulher. Passa protetor solar, com seus óculos escuros. A roupa de banho apropriada. É bom sentir o clima do litoral. O vento soprar.

Os pais ficam de olho nos filhos que brincam. Eles fazem castelos na areia, vão até o mar com seus pequenos baldes e pegam água pra mini obra de arte. Em todo lugar se enxerga pessoas que brincam, bebem e se divertem.

Não há outra forma... é assim mesmo.

Em casa chegam famintos, vão aos mercados lotados, compram comida. Também fazem churrasco. Seguem todo ritual, com uma caipirinha que acompanha o papo e refrigerante pras crianças. Elas sempre pedem sorvete e nas férias está tudo certo.

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Também ficamos bêbados, famintos e sempre queremos mais. A saudade das férias é lembrada o ano inteiro. A programação pras próximas festas é feita entre amigos, com a família, por telefone, e-mail, orkut...

Aquele prazer de viajar em dias possíveis. Esquecemos dos problemas por um período. Não é falso, apenas curto. A felicidade é isso. Não há como ser feliz todo momento. A alegria é um tiro certeiro na cabeça. Algo rápido e eficaz.

Confraterniza-se tudo isso. Todos seguem rituais parecidos. Extrapolam, pois é tempo disso mesmo.

Até porque sabemos que ao voltarmos, estará tudo na perfeita desordem. Mas quando saímos pras festas, desordem é legal, bagunça faz parte da felicidade momentânea.

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Então eu fico feliz que a família de palestinos faça sua festa. Como todos nós. Eles partem pro retorno e sabem que o cotidiano os espera. Assim como todos nós. A batalha diária não preserva ninguém.

É feliz saber que a família de palestinos está por aqui. No Brasil.

Também poderiam estar em Londres, nos pubs. Na liberdade chique de Paris. Na loucura de Amsterdã. Em Berlin ou Nova Iorque. Sei lá... qualquer lugar em que pudessem fazer suas festas.

Sim... eles sairiam de férias e teriam diversão. De forma diferente, mas estariam com o fogo da felicidade.

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Porém... ah porém... existem as famílias de palestinos que tem suas férias decretadas por Israel. Pelo gás natural e outros interesses.

E lá eles também saem de férias.

Como aquela espumante que estoura, Israel lança mais uma bomba.

E mais uma família de palestino viaja. Explode.

O pai, a mulher e os filhos.