terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

E quando verdade parece mentira...

O casal de namorados se juntara há pouco tempo. Normal pra jovens pegarem suas mochilas e irem pro mesmo canto. Porém a identificação que existia quando estavam em casas diferentes se perdeu ao dividirem o mesmo lar. O que salvava mesmo era o sexo.

...

Após a foda matinal...

- Como você é gostosa gata... – disse o jovem com seu cigarro ao olhar pro teto deitado na cama pelado.
- Gata! Já te disse que não sou sua nega pra me chamar de gata...
- A qual é...
- Já disse pra parar com essas gírias infantis...
- Pô mina... não é bem assim...
- Mina! É pra acabar mesmo...
- Puta que pariu... vou trabalhar... – levantou, botou uma bermuda e saiu do quarto.
- Como é que é? Trabalhar aonde? – ela escutou os acordes do violão. Puta da cara foi tomar uma ducha. Vestiu-se e foi dar aula.

...

O músico tocava numa banda. A professora dava aula concursada pelo estado. Eram jovens. Ela formada em Letras. Ele sempre tocou. Pagavam suas contas e mesmo assim acabava o mês no vermelho. A professora tinha seu salário fixo, o que segurava a maior parte da barra.

...

- E aí cara... o que está fazendo?
- Tranquilo em casa... por que?
- Chega aqui, vamos fazer alguma coisa, tomar umas cervejas.
- Beleza, estou indo, aproveito e compro no posto umas geladas.

...

O músico fazia os acordes de uma musica que criara. Aguardava seu amigo chegar com umas cervejas.

Toca o interfone. Seu amigo sobe. Entra no apartamento.

- E aí... como está essa vida de casado parceiro?
- Tá legal mano... mas rola muita treta tá ligado?
- Pois é... deve ser normal... não sei também... nunca fui casado.
- Pô... não to casado... só moro junto!
- Hehehe... tá certo tá certo.

...

E conversaram durante aquela manhã. Não haviam tomado café. Cigarro atrás de cigarro. Meio bêbados davam risadas e assistiam clipes de músicas que gostavam.

A sala tinha um grande sofá. Um tapete no chão. Cadeiras espalhadas e uma mesa. O cinzeiro estava no sofá. Quando o amigo da cerveja foi ao banheiro, ao voltar sentou descordenado e derrubou o cinzeiro em cima do sofá. Fez uma sujeira de cinzas.

- Puta merda... desculpa cara... vou limpar!
- Não não... deixa comigo...

Aí o músico foi buscar um pano. Voltou e começou a limpeza. Estava tonto do gole, mesmo assim se empenhou pra recolher as cinzas e não deixar sinais de bagunça em casa.

Como estava tonto, quando estava abaixado, se desequilibrou e caiu de joelho. Numa mão estava a lata da cerveja, na outra o pano úmido e o cigarro na boca. Por isso a queda foi totalmente esquizofrênica, sem motivo aparente e mesmo assim, devido os membros ocupados, ralou o joelho no tapete, pois o peso do corpo foi depositado neles.

O instante de comédia foi apreciado com gargalhadas intensas. E o músico percebeu seu joelho ralado.

- Puta merda... olha meu joelho cara!
- Olha só o que um cinzeiro provoca num bêbado não?
- Pois é... olha que desastre.
- Que horas são?
- Quase onze e meia...
- Puta merda! Tenho que sair fora... preciso passar no banco.
- Beleza cara... vai lá.

...

Sozinho, sentado, com o joelho ralado e bêbado. O músico esperava sua mulher chegar pra irem almoçar fora.

Sua namorada chega perto do meio dia.

- Oi... nossa... estou cansada! Vamos comer?
- Vamos nessa!
- Só vou colocar outra roupa tá bom...

Ela se trocava e o músico chegou, abraçou-a e deu um beijo em seu ouvido.

- Você bebeu?
- Um pouco...
- Você está bêbado?
- Claro que não...
- Quem veio aqui hoje?
- Um amigo meu, só isso... deita aqui comigo... – deitou na cama e tirou a bermuda.

Sentado ele expôs seu joelho ralado. Estava bem vermelho. Uma mancha estranha pro momento.

- O que houve por aqui? - gritou ela.
- Por que?
- Que sujeira é essa na cozinha? – perguntou após ir a cozinha tomar água e reparar que o pano estava cheio de cinzas.
- Não houve nada... só um pequeno acidente.

Já no quarto ela repara em seu namorado. Olha pra ele e percebe o machucado no joelho.

- Que machucado é esse no joelho? O que você fez aí?

O músico não imaginava que a proporção da situação tomaria tamanha importância. Já estava zonzo, mas explicou a história um tanto estranha, porém verdadeira.

- Como é que é... você quer que eu acredite nessa porcaria que acabou de me contar?
- Qual é gata... é a pura verdade.
- Gata porra nenhuma... chego em casa do trabalho e encontro você bêbado e com o joelho ralado? O que você quer que eu pense?
- Você não confia em mim mesmo né...
- Quer saber de uma coisa... vou almoçar sozinha...
- Vai lá então... sua paranóica...

...

Ela colocou um vestido curto, que valorizava seu belo corpo. Era uma bela mulher. Estava cheirosa e sedutora.

O músico colocou a cabeça no travesseiro e teve um minuto de lucidez. “Nossa como ela estava gostosa naquele vestido”. Ficou com uma pulga atrás da orelha. A chamou de paranóica, mas se colocou em seu lugar.

“Já imaginou você chegar em casa e encontrar sua mulher bêbada e com o joelho ralado! O que vai pensar?” – sua consciência apitou...

- Vixi... vou atrás da minha gata agora mesmo. E se ela voltar pra casa com o joelho ralado! Puta que o pariu...