quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O POGO

Olho de Gato é uma incógnita, porém dificilmente erra...
quando disse que ele não havia se desligado do líder
angolano Joe Joe Jabadu Junior, ele se irritou!!!!

Me escreveu uma carta retardada, sem sentido e
cheia de pegadinhas... com vários símbolos e
signos semióticos... dessa vez ele me surpreendeu
só falta Olho de Gato estudar o processo semiótico.

No final das contas... suas sugestões continuaram
das mais insanas... não mudou nada pra mim...

AFINAL

QUEM É JOE JOE JABADU JUNIOR?









PRA MIM PODE SER QUALQUER UM... INCLUSIVE VOCÊ


segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Duas caras

Quando o “fenômeno” enrabou o traveco no Rio de Janeiro, Maria João ficou toda animadinha. “Ai flor... agora o sucesso está a caminho, no Rio já é um escândalo, logo logo é por aqui!!!” – em frente ao espelho ela ou ele tirava o laquê da cabeleira depois da noitada.

“Ora, se até Ronaldo buscou seu ou sua colega de profissão, quem sabe ele ou ela não dá sorte” – dizia ela ou ele em frente ao seu amigo espelho. Enquanto sonhava Maria João se tornara João Maria e se preparava pro subemprego, não menos lucrativo, porém bem mais perigoso.

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“De sete a oito dessa gangue não chega aos vinte de idade, “viva rápido e morra jovem”. É isso que pensam. Depois do que vi aqui no Dom Daniel... ahh como eu gostaria que meu tempo de Jack Daniels voltasse... mas a realidade me reservou apenas o Dom Daniel, falido como eu... e bem aqui, na rua Liberdade, na rua da falsa liberdade, meus meninos perderam a cabeça que nunca tiveram” - pensava o coroa do bairro Dom Daniel, conhecido como Velho Lobo. Antigo morador e que conhecia cabeça por cabeça quem vivia por ali.

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Diz a lenda que Velho Lobo é um ex rico que se envolveu com mulheres, drogas e jogo. Perdeu tudo e agora vive no Dom Daniel, bairro pobre de Lages, Santa Catarina, com uma aposentadoria medíocre.

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João Maria e sua turma estão por aí armando alguma. Ninguém sabe da identidade do menino, já que a noite sempre some do grupo e tem outra vida. Eles param numa construção abandonada no Dom Daniel e queimam algumas pedras de crack.

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“Uma nova edição dos Capitães da Areia de Jorge Amado está na ativa por aqui. Os moleque são responsa e não brincam em serviço. Crianças com suas próprias regras e suas sentenças. Vivem aqui a maltratar tudo e todos... são ou foram maltratados e é assim que vivem... ahh essa história, esse efeito dominó... aqui o bicho pega.

Meus Capitães da Areia são protegidos pela lei... mas claro... não tem pais, família e por que teriam leis pra condená-los!!! Ahh como eu tenho saudades do meu tempo de Jack Daniels... mas agora não posso me dar ao luxo... estou no Dom Daniel, carente, transporte precário. Aqui é “pedreira”, pobre, violento, com gangue de menores que aterrorizam, apedrejam casas. Já os homi... bom... eles também são protegidos pela lei.

Isto é a insegurança meu chapa... sem transporte não consigo ir embora, o busão tem medo de vir aqui... todo mundo aqui virou baú... guardam a verdade. Medo de uma gangue de moleques. Esses dias eles abriram um buraco na casa da minha comadre de 81. A policia diz que não é onipresente... não fica o tempo todo na “pedreira”. Então eu digo: “ei homi da lei... tem criança, tem estudante... todos pobres e onipresentes por aqui!!!”” – joga fora seu cigarro Derby, barato, fedido... Velho Lobo está morrendo.

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- Dessa vez não pode ser vandalismo porra! – diz João
- Qual é... o que você quer fazer? – responde outro membro da gangue.
- Mão armada porra! – retruca João.
- Isso tem que ser a noite... e você nunca tá cagente a noite tá ligado! – completa o moleque.

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Durante o dia é João, a noite é Maria. Na night não é uma simples Sta Mary não, que vai por aí toda bela, que bebe, fuma e dança. Na sua festinha, a gatona faz sempre algo mais. Se dormir no ponto, já era, a baitola não dorme, vai além do papai e mamãe. Maria João leva carteira, documento, grana...

Já João... no seu trampo diurno, junta sua turma e faz pequenos furtos, aterroriza a cidade. Mas o moleque está com ambição, quer algo maior, ir atrás dos bacanas. Mas nesse ramo tem que tomar cuidado, não tem espaço pra descuido e do jeito que a turma está mandando no crack, é questão de tempo pra casa cair.

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Numa ladeira de paralelepípedo João Maria ou Maria João deixou pra trás seus sapatos. Mesmo correndo na pedra, fugia dos homi. Sabia que mais duas quadras na passada larga e estaria salvo ou salva, pois era só quebrar a esquerda e se embrenhar num matagal logo ao lado dum esgoto clandestino no bairro Santa Helena.

“Quero ver os homi me alcançar, no mato a caça vira caçador” – pensou o moleque. “Temos que pegar esse rato antes dele chegar naquele mato lá no Santa Helena... senão já era... eu é que não vou entrar lá... tenho família pó” – disse um policial para o outro.

Os dois lados da moeda... as vezes o fraco vira forte a morte é vida e assim conseqüentemente. Será? João Maria ou Maria João completara seus 18 fazia dois meses e desde então sua vida virara um inferno. Não podia mais assumir bronca de ninguém e o que era pior, ele é que podia acabar assumindo suas próprias broncas se marcasse na fita.

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Depois de um encontro com um magnata, Maria João roubou uns documentos e pegou o endereço daquele homem cheio da grana. João Maria mostrou pro grupo, mas ninguém estava muito preocupado com grandes furtos, estavam querendo coisa rápida e consumo instantâneo de crack.

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A morte ronda o grupo, quem será o primeiro?

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Hoje o consumo de crack é intenso e o reflexo está no corpo dos jovens do crime. Seus aspectos cabreiros, seus olhares desconfiados, suas atitudes desesperadas... tudo é possível no paraíso artificial que ultrapassa a barreira do correto, num mundo que não faz parte do normal.

Nesse mundo a normalidade é ultrapassada pela euforia momentânea de quem está na correria... de quem quer dinheiro rápido... o prazer mais rápido e fulminante já criado pelo homem... um ataque mortal.

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Desta vez Maria João ficou na reserva e aquele jovem foi atrás de um crime bem sucedido. Caiu feio com os homi. Flagrado numa “casinha” no bairro Coral, o moleque abusado fazia a festa roubando objetos de valor, além de consumir muito crack na cozinha dos magnatas.

O que ele ou ela não esperava era a casa com tanto monitoramento. Ele já havia quebrado algumas câmeras, mas é a tecnologia meu velho... quase preso em flagrante.

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Numa correria fulminante João Maria foge da polícia. Mas a vida é assim... como uma parada cardíaca... e ele ou ela morre, após fumar tanto crack e correr, perdeu suas forças motoras de tanto se auto destruir, dando de cara na pedra... morrendo a menos de cinqüenta metros da liberdade... do matagal fedendo a esgoto no bairro Santa Helena.

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Então se perguntarem sobre a Maria na night... que sonhava, vislumbrava junto com a mídia todo o glamour... ela sumiu... não está mais no ponto. E João... pra onde foi? Seu grande furto quase se concretizou não é!

E logo eles que sempre trabalhavam em dupla, com sincronismo... o problema é que desta vez... diferente do normal, quando Maria terminava suas exaustivas noitadas... quem dormiu no ponto foi João.