sábado, 4 de outubro de 2008

Osvaldo... e a política no interior

- Ei Osvaldo... chegou uma carta pra você.

Osvaldo abre o envelope e começa a ler:

“Sei que você escondeu nossos recibos. Acha que está mexendo com quem? Não temos muito tempo, nem você e muito menos sua família. Hoje sua filha foi à escola, pode ficar tranqüilo que ela vai voltar.

Hoje ela vai voltar.

Não precisa ser um gênio para entender o que estamos querendo dizer com isso não é Osvaldo? É melhor você estar com os papéis em dia, porque não vamos cair e a corda não vai arrebentar do nosso lado.

Amanhã sua filha vai colocar o uniforme da escola, sua roupinha passada e cheirosa. Sua mulher a levará. Quem sabe elas voltem. Na verdade ainda não decidimos.

Talvez porque essa decisão seja sua, não é?”.

...

Osvaldo sente uma ânsia e vai rápido ao banheiro... leva as mãos ao rosto, passa uma água da torneira, se olha no espelho. Está mais velho e agora corre contra o tempo.

...

Em casa sua esposa o convida pro prazer, sua filha já está na cama, mas ele não esquece da carta. “Que papéis! Que recibos? Aquele aviso era pra mim? Por que?”.

...

- O que há com você amor? – pergunta a esposa excitada e beijando seu ouvido.
- Nada nada.

Osvaldo levanta e vai até o banheiro, lava o rosto e entra em pânico. Sua esposa vai até ele e o vê aos prantos.

- O que houve? O que está acontecendo?
- Nada... te amo querida... só estou um pouco sobrecarregado no trabalho.

Acho melhor dormirmos...

...

Osvaldo liga durante todo dia pra esposa e pra diretora do colégio de sua filha. Está nervoso, precipitado. Seus companheiros de campanha percebem, mas ninguém fala nada.

Esse homem dedica sua vida a família e de uma hora pra outra está sem chão.

...

- Pai... hoje recebi um bilhete de um homem na escola... ele disse que era pra você...
- Um bilhete Osvaldo, uma ameaça! – gritou sua esposa com um papel na mão...

Quando Osvaldo chegou em casa sua esposa estava chorando e sua filha foi até ele e disse do bilhete. Porém antes disso, já havia dito pra sua mãe sobre o papel e sua mulher leu a carta:

“Fique tranqüilo meu caro, estou querendo saber se você já está com os papéis? Acho que sua filha não vai se importar em transmitir o recado para você não é?”.

...

- Há quanto tempo você está sendo ameaçado Osvaldo? – gritou sua mulher.
- Não interessa...
- Como não interessa! Sua filha acabou de receber uma carta de um desconhecido! E você me diz que não interessa?
- Calma... já arrumei um lugar pra vocês ficarem. Peguem umas coisas e vão pra Cascavel na casa da minha irmã.

Depois de brigas e choro, Osvaldo convenceu sua família e o marido de sua irmã acabara de chegar de Cascavel. Pegou o pessoal e os levou.

...

Osvaldo vai trabalhar. Toca o telefone:

- Bom dia Osvaldo.
- Quem está falando?
- Você sabe quem é... tem o que quero?
- Não sei do que você está falando!
- Não brinque comigo meu caro... as coisas vão piorar pra você, está entendendo?
- Não tenho medo de ameaças...

Osvaldo conversou com o estranho durante um tempo, não conseguiu identificar quem estava o ameaçando.

...

- Nossa, ouvi o Armindo hoje, ele está louco atrás de uns papéis que faltam pra manter a candidatura do majoritário.
- Como é que é? – perguntou Osvaldo áspero pra um cabo eleitoral.
- O Armindo, um dos coordenadores deles... escutei ele falando com outro coordenador sobre uns papéis... mas não sei do que se trata... ele não percebeu que eu estava ouvindo.
- Filha da puta...

...

Osvaldo estava com sangue nos olhos. Nunca cometera um delito, nunca fora suspenso no colégio. Bom pai de família, funcionário público, entrou na política pra se manter num bom emprego na atual administração.

“O Armindo vai se ver comigo... filha da puta...”. Foi até um bairro onde conhecia bastante gente. Chamou João da Patrola, um conhecido, bom jogador de baralho, criado nos botecos das vilas.

- Ei João, preciso conversar contigo em particular...
- O que foi Osvaldo, vamo chegando!
- É o seguinte – antes de falar olhou para os lados – está sozinho aqui?
- Sim... pode falar...
- Preciso de uma arma, você tem?
- Eu não mano... mas pra que você quer?
- Não interessa, pago o preço que for, mas preciso de uma agora!
- Calma, posso conseguir uma pra você, mas você vai precisar segurar um tempo por aqui, se você sair do bairro e voltar, talvez não retorne de onde veio mais uma vez... se é que você me entende!
- Sim... eu espero aqui na sua casa, pode ser?
- Claro! Não sai daqui... tem uma grana em cima?
- Tenho...

...

Após uma hora João volta. Estava com um malaco ao seu lado.

- Aqui está... – entregou um papel de pão com algo dentro.
- Aí... passa a grana antes porra! – disse o malaco com uma 9mm apontada pros dois.
- Calma aí Xitão... ele é meu amigo... tá com a grana em cima... passa pra ele...
- Toma aí...

Xitão contou o dinheiro, estava tudo certo, tinha até mais que o necessário.

Osvaldo saiu do bairro com um 38 na mão e sangue nos olhos.

...

Em casa toca o telefone. Sua esposa conversa com ele, mas percebe que ele está longe.

- Não vai fazer nenhuma besteira meu amor, isso vai passar, deve ser trote de política! Você sabe que isto sempre acontece...

Sim ele sabia. Sabia também o que tinha de ser feito. Saiu pela pequena cidade do interior paranaense, armado e com uns goles na cabeça, estava à procura de Armindo, sabia de um comício da oposição, então pra lá foi.

...

Ficou na espreita por lá, sabiam quem ele era. Quem o viu por lá estranhou, pois coligações opostas não são bem vindas.

Não estava preocupado com isso, queria ver o Armindo e resolver aquela parada.

Avistou Armindo em meio a coordenação, ao lado do palco do comício. Se afastou das pessoas, deu a volta entre as árvores que estavam ao redor do encontro.

Passos lentos, avistando de canto de olho, olhos esbugalhados... chegou uns três passos de Armindo, pelas costas, e disparou um pipoco na sua cabeça.

A multidão dispersou, renderam Osvaldo, tomaram a arma dele. Armindo morreu na hora.

...

Aqui no interior a morte está presente assim como um comício e os motivos nunca são esclarecidos. Não sabemos se quem morreu era culpado e o “por que?” de quem matou.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O POGO

O Pogo é só uma inserção... não terá aviso...
não será organizado... e só está sendo avisado
desta vez... porque eu estou afim...
é a desordem... o descarrego... instantâneo.


...

após o catarro
acendo a porra do cigarro
mais uma vez
após a lembrança
escrevo aquela carta
que já sei...
ficará jogada no chão
que lerei depois
e reescreverei

olho pra cima... pras estrelas
elas não rimam
e hoje também não o farei
como se estivesse indisposto
mas com um certo alívio
pois hoje... mais um dia
eu retornei

em meio ao acervo
de idéias em decomposição
vejo que meu corpo
também está...
e mesmo assim
não me arrependo...
de tê-lo agredido
e sei... que algum dia
ele responderá...



segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Olho de Gato e suas especulações

Em Nego Tainha: o pirata de Itapema,

Olho de Gato da o ar da sua graça.

Olho de Gato (ver arquivos de post: 04 de agosto)

Nego Tainha: o pirata de Itapema

Tem uma lenda na cidade de Itapema, Santa Catarina, sobre a chegada de navios piratas há muito tempo atrás nos arredores daquela bela bacia. Conta-se que na praia da Sepultura um navio pirata lá lançou sua âncora e seus tripulantes por lá ficaram durante um tempo. Conta-se também que eles fugiam da marinha portuguesa.

O comandante do navio, seu papagaio e mais um peão de confiança, pegaram um bote e saíram pela costa, com o baú cheio das preciosidades derivadas de furtos nesse mundo das águas. Após um tempo navegando por águas rasas, avistaram uma baía calma, bela e grande. Era o que precisavam, uma orla em que pudessem demarcar território e esconder seu tesouro.

Os piratas esconderam o tesouro na areia de meia praia – Itapema – e voltaram pro navio. Já em alto mar, houve um confronto com a marinha portuguesa e a destruição dos transgressores foi inevitável. Não sobrou ser humano pra contar história. Porém o papagaio escapou e foi dele que propagou essa lenda...

...
Agora o intrigante em Itapema, ainda mais agora em tempos de política, é que na década de oitenta, auge da lenda do tesouro, candidatou-se a prefeito da cidade um jovem cujo nome eleitoral era Nego Tainha. Este político que tinha como seus principais eleitores os pescadores do costão da cidade, além dos moradores dos bairros do outro lado da estrada que liga o município a capital catarinense, tinha uma criatividade impressionante.

Nego Tainha usou a lenda do tesouro em sua campanha. “Eu não sou baú pra guardar dinheiro”, gritava ele em seus comícios. “Eu achei o tesouro, eu tenho o dinheiro”. O povo gritava, na esperança que dias melhores estavam por vir. Já que o progresso chegava junto com as especulações imobiliárias e grilagens de terra na cidade.

“Eu não sou baú pra guardar dinheiro” gritava Nego Tainha. Confesso que é um belo slogan de campanha, tanto é que ele ganhou. Ao eleger-se prefeito, Tainha, que era um pescador nato – se vestia como pescador e falava como pescador – manteve sua promessa de que não guardaria dinheiro e começou uma obra no centro de Meia Praia.

Ergueu, na rua 230, o que era pra ser um shopping. Porém o que há lá até hoje são carcaças daquele que também virou lenda, junto com seu tesouro. Ninguém sabia de onde Nego Tainha tirava dinheiro, pois não fez acordos políticos com empresários, não devia pra ninguém, o município estava sem verbas trazidas por deputados e sua arrecadação, na época, era muito baixa.

Mas a obra estava a todo vapor. Após erguer a carcaça do que era pra ser um shopping, passaram a moldurar, pelo menos era isso que todos nós pensávamos. O trabalho era 24 horas e as pessoas estavam excitadas com tudo aquilo.

...

Aí vem mais uma lenda que cerca a Costa Esmeralda. Da noite pro dia Nego Tainha e inúmeros pescadores da região sumiram! O barulho parou, a excitação passou a ser desânimo. Ninguém entendeu nada. O que aconteceu? Cadê o prefeito? Os pescadores?

Numa busca na casa de Tainha, a polícia encontrou desenhos de um navio antigo, manuscritos preciosos que provavelmente o prefeito havia esquecido. Com muito espanto foram recolhidas inúmeras provas naquela casa e numa perícia se conclui que Nego Tainha era realmente um pirata.

Impressionante como ele pode deixar aquelas provas em sua casa. Será que foi pra sabermos que ele era um pirata? Mais uma lenda estava na cidade. Um mistério ainda maior surgiu quando viram um baú velho e vazio. Será que ele achou realmente o baú? Será que aquele era o legítimo baú?

Só restava uma opção, ir até a obra no centro de meia praia. Quando entraram, o espanto ainda maior. Não havia obra interna, era só a carcaça. Por dentro havia um amontoado de madeira e ferro. Desenhos de navio. Sim! Eles usaram a estrutura pra construir um navio! Porém como saíram sem despertar a atenção das pessoas?

...

Mais um mistério, mais uma lenda na cidade. Ninguém sabia o que havia acontecido. Até a chegada do meu amigo, o detetive insano Olho de Gato. Em pouco tempo na cidade, ele logo achou diversas provas que levaram a concluir que Nego Tainha havia viajado em direção ao norte.

Perguntei pra Olho de Gato o por que da conclusão. Ele só respondeu: “o tempo e o vento irão dizer que estou certo”. Só me faltava essa agora. Com uma conclusão superficial dessa, o detetive foi mandado pra puta que o pariu. Não tinha nada que indicasse essa definição do Olho de Gato.

As surpresas não param, ainda mais quando falo do meu amigo detetive. Ele continua me mandando algumas cartas surpreendentes como sempre. Da última vez foi da sua justificativa pra sumir, quando foi pra Angola e conheceu Bin Laden.

Dessa vez ele quis justificar o acontecido do seu fiasco investigativo em Itapema. Mais uma vez ele surpreende, não sei... as coisas acabam se encaixando no decorrer do tempo...

...

Segundo Olho de Gato em sua carta mais minimalista:

“Olha meu nobre amigo, quando estive em Itapema pra resolver um caso como aquele, sabia que só o tempo poderia acalmar a ansiedade de toda uma comunidade. Não adiantaria eu chegar lá naquela época e explicar a situação, ninguém iria entender.

Por isso esperei o tempo passar, existem idiotas que brincam com a realidade achando que é ficção, mas cuidado ao fazer isso, pois o buraco é mais embaixo e se tratando de piratas, aí sim que é bom ficar ligado.

Eles nunca deixaram de existir, simplesmente sabem os atalhos. Te devo justificativas de muitas histórias que deixei inacabadas, mas esta, em especial, não poderia deixar passar em branco.

Meu nobre amigo, quando vi que Nego Tainha havia saído com seu navio, logo conclui que ele havia ido pro Caribe, pois a lenda do papagaio caribenho imortal deixou de ser lenda quando o vi em Itapema rondando nossas cabeças.

Pouca gente sabe disso, mas no Caribe existe um papagaio de pirata que está em volta de todos, todo momento. E Nego Tainha sabia enrolar muito bem pelo que sei. Isso é só com ajuda de um papagaio de pirata. Quem entra na política e se sai bem como poucos? Recupera um tesouro pirata antigo ali escondido e sai sem deixar vestígios?

Os magnatas guardaram na gaveta a história que escrevi pra eles, mas tudo tem seu retorno, mesmo que demorado. Entenda meu amigo, vou clarear as coisas pra você... Holywood também é um papagaio de pirata, Costa Esmeralda é uma alusão ao Pérola Negra e Nego Tainha é Jack Sparrow”.

ASS: João Chimbica (O Olho de Gato).