segunda-feira, 25 de agosto de 2008

"Se em vida te incomodei, ao morrer, serei tua morte" - frase de Martinho Lutero, presente num livro de Edgar Allan Poe...

Soldado Barbosa achava que era o único que sabia dos segredos que estão entre a vida e a morte.

Sangue do seu sangue: CAPÍTULO II

“Por que nada acontece?” – se perguntou após tocar sua mãe. Não tinha imagem. O desespero veio e ele mais uma vez não se conteve. Atordoado foi afastado da PM, precisava de um tempo. Na sua casa, acendeu um cigarro e saiu tocando nas paredes, em todas as partes, tentando sentir algo. Pedia pra deus! Nada aparecia.

Quando menos espera a porta se abre. Surge seu irmão, chapado de pedra, olhos esbugalhados. “A mãe! Ela está vindo!” – dizia ele. “Ela está atrás de mim, me ajude Edinho!” – e se jogou nos braços do irmão. “O que você está dizendo seu maluco! Onde você estava?” –perguntou o soldado – “nossa mãe está morta” – disse seco e sombrio pra seu irmão.


“Mas eu a vi, ela estava lá no Largo, me viu, me mandou vir pra casa, disse pra eu...”, e teve uma convulsão abraçado ao policial. Começou a tremer, a babar... não deu tempo nem de fazer uma massagem cardíaca, foi fulminante, uma overdose.

Dessa vez Barbosa viu seu irmão morrer: o preparo do cachimbo, o crack queimando nas cinzas do cigarro... depois seu irmão fumando na lata. Não precisava ser um gênio pra visionar o maldito assassino do seu irmão. Porém, por que não via quem matou sua mãe?

Mais uma morte em seus braços, aumentou o desespero do policial. Com problemas psicológicos, já não fazia parte, no momento, do corpo da PM. Estava triste, frustrado, depressivo.

Sai de casa pra comprar cigarro, depois de alguns dias todos olham seu péssimo estado. Primeiro a mãe, depois o irmão...

No boteco, sentado com uma cerveja de companhia, acendeu seu cigarro. Após alguns minutos percebeu que começara uma discussão nos fundos do botequim. Um tiro. Gritaria, correia: “Edinho! Soldado?” – gritou o dono do bar. Barbosa nem se mexeu, não demonstrou sentimento ou ação, nada!

“Edinho, porra cara... tem um corpo lá no chão. Faz alguma coisa caralho!” – disse desesperado o dono do local. Ele levantou, depois da insistência do amigo de infância. Chegou à frente do corpo, descrente e frio, segurou o braço do cadáver ainda quente.

Naquele momento o soldado renasceu. Reconheceu aquele rosto... sim! Era o Soldado Peixoto que havia atirado. Viu mais um filme. Sua caça estava mais perto do que jamais imaginou, lembrou do rosto daquele homem e uma energia ressurgiu. Falando com seus companheiros de bar, ninguém dizia quem era aquele homem. Uns não sabiam, outros diziam simplesmente que havia se apresentado como Peixoto.

Mais tarde na PM o Delegado disse pra Barbosa se acalmar, pra ficar na dele, pois estava afastado e que havia ficado louco. Dessa forma saiu, foi pra casa. “Droga, por que só minha mãe?”, se perguntava. No outro dia um amigo da polícia ligou e disse que haviam achado Peixoto. Realmente ele havia se desligado da polícia, tinha nas costas alguns homicídios e um seqüestro. “É melhor você vir pra cá! Ele está pedindo por você” – explicou o colega por telefone.

Soldado Barbosa sentiu o gelo percorrer seu corpo. “Como assim quer falar comigo?” – “Caralho... vem aqui porra, tá pensando que eu sou tua nega porra!” – e seu colega desligou o telefone. O PM pegou um ônibus e foi pra DP.

Chegou lá e viu que o tal Peixoto só queria falar com ele. “É contigo” – disse o Delegado. Barbosa entrou na sala de interrogatório e deu de cara com aquele homem que mudou sua vida. Frente a frente com um espírito, era isso que representava Peixoto pra Barbosa.

...

- Edinho! – e levantou olhando o PM
- O que? Como você sabe meu...
- Não vou enrolar, não temos tempo pra isso. Eu sou seu pai porra...
- O que? Do que você está falando? Meu pai o caralho... você é um maldito assassino, seu porra – e deu um soco na cara de Peixoto.
- Moleque de merda! Pode bater... bate...
- O que você quer comigo – e deu outra porrada na cara de Peixoto – acha que é chegar aqui e ir dizendo que é meu pai... que história maluca é essa?
- Me tire daqui, só eu posso te ajudar.
- Quem disse que eu preciso de ajuda. Por que eu faria isso? Nem se quisesse eu faria.
- Então te fode... vai ficar com essa paranóia pro resto da vida. Otário filha da puta – tomou outra porrada no meio da cara... dessa vez desceu uma cachoeira de sangue do nariz.
- Que paranóia? – e pegou Peixoto pelo pescoço – Quer morrer agora bandido safado?
- Mata! Mata teu papaizinho... – Peixoto sentiu que Barbosa não estava brincando – espere, espere... eu sei quem matou a puta da tua mãe!
- Como é que é? – desceu a porrada novamente – fala o que tu sabes porra?
- É... eu sei quem foi!
- Do que você está falando?
- Sua mãe tinha alguns segredos senhor policial...

Naquele momento entra na sala o Delegado. “Acabou a conversinha, pra fora Soldado, agora é comigo”. Barbosa saiu arrastado pelos colegas. A porrada iria comer por ali e as dúvidas estavam fritando seu cérebro.

...

Não dormiu, precisava falar com Peixoto. Foi pra delegacia no outro dia e explicou pro Delegado a situação. “O que quer que eu faça Soldado. Não tenho culpa se sua família é uma merda mesmo” – disse à Barbosa. “Porra... preciso saber... ele disse que sabe quem matou minha mãe. Ninguém sabe de nada porra!” – e começou a chorar. “Qual é Soldado” – disse o Delegado repugnado. “É minha mãe pô”...

O Delegado liberou a conversa, ficou irritado com a situação, mas sabia da competência do seu subordinado e que poderia usar seu desespero em prol da polícia. Já imaginava as capas de jornais com mais esse caso desvendado.

A volta do Soldado Barbosa era como a ressurreição da efetividade policial daquela DP. Ele era bom, ia pra cima mesmo, tinha um segredo, todos percebiam, mas o que interessava eram os casos solucionados e os bandidos na cadeia. “A imprensa tem que publicar ações da polícia” refletia o Delegado. Há muita coisa em jogo na alta cúpula de nossa justiça.

...

- Sente aí moleque idiota, chega de enrolar – disse Peixoto.
- Quem matou minha mãe? E que história é essa que você é meu pai?
- Cala essa boca e escuta. As coisas são mais difíceis com você querendo dar uma de durão... dessa vez você não está lidando com simples delinqüentes...